Paper Mario: Sticker Star

Unknown | 16:45 | 0 comentários




Quando foi anunciado na E3 de 2010, Paper Mario: Sticker Star me deixou eufórico. De todos os títulos mostrados durante aquela parruda apresentação da Nintendo, foi ele quem, sem dúvida, conquistou meu coração. Mas por quê, já que o último jogo da série, Super Paper Mario, de Wii, foi uma grande decepção? Porque as raízes de RPG que consagraram a série nas suas duas primeiras e primorosas versões – Paper Mario para N64 e Paper Mario: The Thousand-Year Door, para GCN – pareciam ter voltado. Pois é, pareciam.

Sabe quando você espera por uma comédia mas acaba recebendo um suspense? Foi mais ou menos o que aconteceu comigo ao entrar de cabeça no mundo charmoso e encantador de Sticker Star. Tudo parecia lindo: os diálogos engraçadíssimos estavam lá, Bowser estava lá sequestrando a Peach e todos os personagens continuavam sendo de papel, no melhor estilo Um Jammer Lammy (desculpe, Parappa). Mas, pouco a pouco, fui descobrindo que toda a parte de RPG, elemento fundamental dos dois primeiros jogos da série, foi tão abrandada que se tornou praticamente nula e que em seu lugar foi incorporado um esquema de quebra-cabeças remetendo bastante àqueles point 'n clicks de antigamente.

Depois da superação de não ter em mãos aquilo que almejava, tentei curtir o jogo por aquilo que se mostrava ser, mas mesmo assim houveram decepções dentro de alguns de seus sistemas que funcionam bem como unidade mas que, no todo, ficam muito aquém dos grandes momentos da série.

Tinha que ser o Bowser mesmo



Difícil encontrar alguém que não curta algum jogo do Mario. O cara se tornou tão versátil nos estilos que se propõe a encarar que é bem aquilo lá que a Nintendo tanto tenta vender: para toda família. Como fã de jogos de plataforma, não tenho nada além de amores pelo bigodudo (sei que essa frase ficou estranha), mas, para mim, aquilo que o italiano sabe fazer de melhor (continua estranha) é RPG. Desde sua ingressão no gênero em um dos melhores jogos de SNES (e, a meu ver, o melhor Mario de todos os tempos) Super Mario RPG: Legend of the Seven Stars, só temos recebido coisa boa. E se você aí nunca jogou nada da franquia Mario & Luigi, saiba que a felicidade plena nunca será alcançada. Acredite.

Por mais que o primeiro Paper Mario tenha mudado drasticamente as linhas e padrões criados pela então Squaresoft em Super Mario RPG, a essência estava lá. Personagens muito bem utilizados, mundos divertidos e diversos, humor de alto nível e nunca apelando para baixarias ou impropérios e um sistema de batalha e de evolução robustos. Tudo o que um fã de RPG pode querer. Sim, houve a mudança drástica na versão de Wii, mas quando Sticker Star foi apresentado pela primeira vez ao público, parecia que as raízes haviam voltado, afinal, vimos Mario enfrentando vários Goombas em uma batalha em turnos! Mas não se engane: mesmo com o início encantador e as batalhas que acabei de citar, Sticker Star não se encaixa em nenhum estilo no qual Mario já fez parte, mas sim em algo novo, que deve ser de certo modo admirado por isso, mas também criticado por suas falhas.

A história não passa das linhas gerais já vistas muitas e muitas vezes nos jogos da franquia, com a diferença de que, desta vez, o sequestro de Bowser se passa durante o Festival dos Adesivos, confraternização muito aguardada no Reino dos Cogumelos todo ano. Durante o evento, todos os Toads das redondezas, Mario e a princesa preferida de todos, Peach (nada de Luigi por aqui. Heresia) se reúnem para fazer um pedido na passagem do Cometa Adesivo. Não conseguindo ficar de fora, o rei dos Koopas dá as caras para acabar com a festa, desejando não só a princesa para si, mas todos os poderes conferidos pelo cometa. Assim, Decalburg, a principal (e única) cidade onde o jogo se desenrola, se transforma em uma verdadeira bagunça, com adesivos mágicos espalhados por todo lugar e terrenos inteiros enrolados no melhor estilo charuto árabe. Daí, evidentemente, cabe a Mario e sua nova parceira, a “adesivinha” recém-chegada na cidade Kersti, darem cabo da situação, recuperando todos os pedaços do cometa espalhados por cinco mundos (Mario é um colecionador incurável desde Super Mario 64) e salvando Peach das garras de Bowser.

Sticker Star tem uma história bem elementar e isso não seria problema não fosse a total ausência de personagens memoráveis trama adentro. Com exceção de Kersti, que é uma adesivinha muito esquentada, mas com um grande coração e tiradas hilárias, não há grandes aparições no roteiro, que se estende a Toads precisando de ajuda aqui e ali. Vilões clássicos dão as caras, com Kamek e Bowser Jr., e, apesar de marcarem presença de forma hilária, o fazem por poucas vezes. Esqueça as sessenta horas de The Thousand-Year Door, Sticker Star é bem mais modesto (levei vinte e duas horas para conclui-lo), sendo dividido como um jogo de Mario mais convencional, a la Super Mario Bros. 3, com mundos bem estabelecidos naquele esquema de mapa tão famoso.



Um dos pontos altos da série Paper Mario é justamente a quantidade de personagens carismáticos que Mario encontra no decorrer de sua aventura. Como esquecer de Bombette, Parakarry ou do excêntrico General Guy? Eles não só eram úteis em batalhas quando uniam forças com o encanador, como também tornavam os diálogos mais ricos e a experiência como um todo muito mais agradável. Esqueça isso em Sticker Star, pois Mario só conta mesmo com os conselhos inúteis de Kersti por toda sua busca – nem mesmo o dinossaurinho Yoshi dá o ar de sua graça aqui.

Até mesmo Mario que, apesar de sempre ter feito papel de protagonista mudo nas séries de RPG, está bem menos carismático dessa vez, só esboçando reações por efeito de especiais nas batalhas, já que, nos diálogos, Kersti toma a frente de todas as situações. Decepcionante ainda mais se levarmos em consideração a maneira como esse “problema de fala” de Mario foi brilhantemente lidado em diversos outros jogos de RPG protagonizados por ele.

Por mais que algumas situações sejam realmente engraçadas e remetam de forma carinhosa momentos de mais de vinte e cinco anos de história do universo do encanador, está tudo muito aquém de homenagens que já foram vistas em outros Mario de anos atrás.

Martelar, pular, pular martelar ad infinitum



A primeira vista, Sticker Star é um deleite: todo aquele charme dos gráficos das versões antigas está de volta, só que ainda mais bonitos em decorrência de uma textura de papelão atribuída em todas as superfícies do jogos. Você ainda controla Mario da mesma forma que os outros jogos, correndo, pulando e martelando mundo afora, num esquema de profundidade de cenário que potencializa os esconderijos e caminhos secretos. Com o efeito 3D ligado, a coisa fica ainda mais bonita e é possível ver aquela fresta entre uma casa e um muro com maior facilidade. Então não se trata de mera perfumaria, como vemos em tantos outros jogos de 3DS.

Os produtores da Intelligent Systems foram ainda mais além na ideia de que tudo é feito de papel, tanto que é até mesmo possível ver as “entranhas” de personagens maiores, sendo estas aquelas reentrância existentes no interior de folhas de papelão. O cenário também é lidado assim, já que, as vezes, um palácio no meio do deserto pode surgir de um envelope fechado.

Munido de seu já famoso martelo, Mario pode interagir com um sem fim de coisas pelo mundo: marretadas em árvores revelam itens escondidos, ou até uma pancada em uma poça d'água pode resultar em um adesivo de cogumelo do outro lado do papel. Você vai sair pulando e martelando a esmo pelo mundo afim de encontrar tais segredos, pois muitas vezes o desenvolvimento do enredo depende disso, e isso nem sempre é legal. Mas, no todo, o esmero colocado na parte gráfica é primoroso e, mãos dadas a maravilhosa trilha sonora, se trata do ponto alto do jogo.

Uma pena que o mesmo não pode ser dito da cerne dos controles, que giram em torno de seu sistema de batalha sem propósito e seus quebra-cabeças estranhos e sem nenhuma liberdade criativa.

A primeira coisa que você vai notar ao começar a se aventurar por Decalburg serão adesivos mágicos colados nos mais diversos locais. Paredes, placas, moitas, embaixo do capacho... eles estão por toda parte e são primordiais para enfrentar os inimigos. De começo, o espaço para armazená-los é limitado, mas isso vai mudando na evolução do jogo. Mas não se anime muito, pois essa evolução se restringe a mais páginas no seu livro para guardar adesivos e uns coraçõezinhos que aumentam seu HP limite.



Botas, martelos, blocos POW, flores de fogo, cascos de tartaruga e mais um sem fim destes adesivos fazem parte do arsenal que Mario dispõe para poder utilizar nos combates. Praticamente todos os itens presentes na série estão aqui – fãs das antigas vão adorar a shuriken de Ninji de Super Mario Bros. 2 ou o bumerangue dos Boomerang Brothers.

Alguns adesivos são mais difíceis de encontrar que outros, todos tem variâncias de intensidade, vários são passíveis de evolução num esquema que o jogo explica muito mal, alguns só são conquistados vencendo inimigos nas batalhas, mas todos, sem exceção, são descartáveis. É utilizar uma vez e adeus. Como o espaço ocupado por eles varia bastante – alguns chegam a quase metade de uma página – seria legal um local para armazenar adesivos que tenho como valiosos. Há lojinhas espalhadas pelo mundo onde é possível comprar adesivos, mas ainda assim seria legal alguma espécie de Fat Chocobo como recurso.

Não quis bancar o malvado há pouco quando afirmei que alguns sistemas presentes em Sticker Star são mal explicados. Esta é a triste realidade. Chegar a conclusão de que um grupo de flores desviradas esconde um bloco mágico que evolui meu adesivo de bota comum para um bota de metal é difícil e chato. Não há indícios nem dicas para quase nada.

Algumas plaquinhas nas primeiras fases do mundo da planície (repleta de Goombas e Koopa Troopas, como você deve imaginar) indicam que você pode entrar com vantagem ou desvantagem nas batalhas, acertando a cabeça dos inimigos com uma martelada ou um pulo. Você, veterano nos jogos de RPG do Mario, já sabe disso tudo. Sabe até que é possível intensificar o dano apertando o botão de ação bem no momento de impacto, enquanto que o mesmo funciona para uma defesa mais eficaz. Mas e aquele que nunca havia ingressado na série antes? Sticker Star explica mal muitas coisas, e esse pequeno “detalhe” dos combates é só uma parte do todo.



Por mais que seja divertido lutar, não há muito porque em fazê-lo. Todo e qualquer sistema de evolução por pontos de experiência foi excluído do jogo, logo, enfrentar inimigos serve mesmo para conseguir moedas para comprar adesivos, já que não há equipamentos ou nada além disso. Entrar em batalhas para gastar adesivos para ganhar moedas para comprá-los de volta, ou pior, revisitar fases para colhê-los nos cenários, não é legal. Tanto que fugi da maior parte dos embates, já que os inimigos aparecem na tela e escapar de suas investidas é bastante fácil. A sensação de pesar por deixar de usar um sistema divertido dentro de um jogo confuso foi de partir o coração, mas me neguei a fazê-lo, já que o propósito era inexistente.

Há de forma mandatória batalhas contra chefes e subchefes, e aí é hora de usar seus melhores ataques para acabar a luta o mais rápido possível. Mas estas são diversas vezes frustrantes, já que é comum ficar sem adesivos (ou sem os adesivos certos) no meio da batalha e ter que correr para conseguir melhores reservas. Kersti ainda concede a preços módicos uma roleta para conseguir bônus nos ataques ou até mesmo fazer uso de até três adesivos em um só turno. Você gastará muitas de suas moedas aqui, já que os confrontos com chefes podem ser bem difíceis caso abordados da maneira errada. Leve em consideração que Shy Guy, Koopa Paratroopa, Dry Bones e todos os demais inimigos comuns encontrados mundo afora são muito fáceis de serem derrotados.

Mas o pior destas batalhas é mesmo ter que usar um adesivo certo na hora que o jogo ordena, não havendo nenhum espaço para criação: numa batalha contra um Cheep Cheep gigante, fui obrigado a usar um anzol para puxá-lo da água. Era essa a única opção e não realizá-la resultaria em uma morte lenta e dolorosa com cusparadas na cara. Por que não pude aspirar o mar com meu adesivo de aspirador de pó ou até mesmo secá-lo por completo com um aquecedor? O jogo é bastante maluco em sua concepção e, a princípio, parece incentivar esses absurdos, mas isso se limita mesmo a resolução de seus frustrantes quebra-cabeças.

Paperizar e estilingar



A jogabilidade Sticker Star, mesmo quando original e aparentemente bem concebida, pode decepcionar a longo prazo. Logo na primeira hora de jogo, Mario vai aprender um recurso exclusivo e teoricamente divertido: a Paperização. Com o apertar de um botão, todo cenário se torna uma folha de papel e Mario pode “descolar” pedaços inteiros para assim interagir de maneira que o beneficie. Uma porta de cabeça para baixo pode ser revirada dessa forma. O processo inverso também funciona: uma ponte que voou para longe pode ser colada naquele espaço roxo correspondente ao seu lugar. Mas isso tudo é apenas o básico do básico, e o sistema não evolui muito bem.

Mario vai encontrar por seu caminho objetos que não são papeis, as chamadas coisas. E são muitas: anzóis, bolas de boliche, camas, bexigas, tesouras, alicates e até bodes e perus defumados. Bodes e perus defumados. Estilingar essas coisas as transformam em adesivos que podem ser usados tanto em batalha quando para resolver os bizarros quebra-cabeças recorrentes pelo Reino dos Cogumelos. A principio, é fácil chegar até a próxima fase: basta encontrar aquele pedaço de cometa que geralmente fica no final do percurso. Bem Mario mesmo.

Mas nem sempre é assim, já que pode haver um furacão, um vulcão ou o perigosíssimo mato alto no seu caminho. Para chegar a conclusão do que fazer daí, Mario tem que encarnar o pirata Guybrush Threepwood e pensar em absurdos. Pode até soar divertido chamar o bode para comer o capim, ou usar um aspirador de pó para sugar o furacão, mas, mais uma vez, não há espaço para criação. Você tem que usar aquele específico adesivo naquele específico lugar, do contrário, não há progressão. A confusão do que vai aonde fica maior ainda, porque você pode utilizar esses adesivos “estilingagados” nas batalhas, causando danos parrudos e dando início a uma animação que varia do engraçado e original – pense num frango defumado dançando hip hop – até o desmotivador e ordinário – Mario arremessando uma bola de sinuca para causar dano extra.



Sticker Star deve se gabar por criar um novo estilo dentro da série Paper Mario, mesmo que empregado de maneira meio confusa e perdida. Depois de deixar de lado minha decepção com as simplificações em tudo que poderia torná-lo um RPG de qualidade, dei o meu melhor para aceitar o jogo pelo que ele é, mas ainda assim as frustrações foram muitas. Das mais de vinte horas que levei para terminar o jogo, um quarto foram para voltar fases para encontrar adesivos escondidos, ou blocos de “?” invisíveis ou aberturas na areia movediça ou poças envenenadas. E não é legal fazer tudo isso fugindo das batalhas, que simplesmente não tem porque de ser. Agora imagine tudo isso percorrendo cenários que, apesar de bonitos, são muito poucos criativos e não variam muito do deserto, floresta, tundra, tão recorrentes de tantos Mario. Paper Mario, em especial o The Thousand-Year Doors, trouxe cenários muito criativos e inesquecíveis, e Sticker Star não pode se gabar por isso.

Entenda que o charme do Reino dos Cogumelos está lá, seus monstrinhos também, mas não há consistência suficiente entre os sistemas apresentados que possam fazer deste um bom Mario, quiçá um bom Mario de RPG. E a quase total ausência de Luigi confirma isso. Paper Mario: Sticker Star é a decepção do ano para mim.

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