Tex avery - O homem que enlouqueceu os desenhos

Anônimo | 11:56 | 0 comentários

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Castelos imponentes, princesas graciosas, bichos fofinhos e formas realistas foram algumas das ferramentas usadas para erguer o império de magia que deu fama ao mestre Walt Disney. E, como você sabe, deu muito certo: Walt ficou marcado para sempre como um dos nomes mais importantes da história do entretenimento.

Por ter dado tão certo, o estilo da Disney acabava sendo um modelo seguido por vários animadores – no começo, nem os grandes gênios escaparam. “Me criticavam porque diziam que eu estava imitando a Disney,” lembrava Chuck Jones, que começou sua carreira com o adorável ratinho Sniffles. “Pra mim parecia muito natural aprender como diabos eles faziam o que faziam, e assim torná-los (os personagens) críveis. Mas eu não sabia o que fazer além de estudar os que vieram antes de mim.”
oi mais ou menos nessa época que um jovem artista do Texas começou a dar seus primeiros passos na indústria da animação. Fredrick Bean Avery – ou simplesmente Tex Avery – sempre se interessou pelo desenho. Estudou no Instituto de Arte de Chicago e, ainda jovem, tentou fazer tiras em quadrinhos, sem conseguir emplacá-las em nenhum jornal. No início dos anos 30, começou a trabalhar como intercalador no estúdio de Walter Lantz, o criador do Pica-Pau. Lá ele aprendeu as manhas do processo de animação.

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Começou a pôr essas lições em prática quando migrou para a Warner, em 1935. Foi ali que ele começou a trabalhar como diretor de curtas animados. Seu primeiro (ainda assinando como Fred Avery) foi um chamado GOLD DIGGERS OF ’49, lançado em 6 de janeiro de 1936. Já no ano seguinte, ele apresentou ao mundo sua criação mais famosa: o Patolino, uma criatura que foi se tornando cada vez mais pirada até o dia em que perceberam que ele faria uma ótima dupla com o Pernalonga se fosse mais egocêntrico e azarado.

O Pernalonga, aliás, não foi criado por Tex, mas ganhou dele a personalidade que o transformou no “melhor personagem de desenhos animados de todos os tempos”, segundo a revista TV Guide, e “maior ator do último milênio” (!), segundo o Washington Post. Ele é demais porque mostra a importância de você derrotar seus oponentes sem perder a classe. Ele não esquenta a cabeça pra resolver seus problemas – quando o Hortelino vem pegá-lo com uma espingarda, o coelho não pega uma outra arma de fogo e o mata. O Pernalonga despreza tanto o Hortelino que SE DIVERTE ao combatê-lo! Ele come cenouras enquanto seus adversários estão quase indo à loucura.

Pernalonga resisitiu ao passar das décadas e continua sendo genial não à toa: ele não é só um desenho que se mexe, é um ser fascinante, com um personalidade única que põe um sorriso na cara do espectador com muita facilidade. Ele faz do público o seu cúmplice.

Devido a um desentendimento com Leon Schlesinger, em 1941 Tex Avery trocou a Warner pela MGM. Desfrutando de uma liberdade criativa maior, Tex fez alguns dos curtas animados mais inesquecíveis de todos os tempos – são dessa época, por exemplo, RED HOT RIDING HOOD e BAD LUCK BLACKIE.

O Droopy é um dos personagens mais populares dessa leva. Ele repete um pouco do comportamento que víamos no Pernalonga: enlouquece seus oponentes com sua incrível capacidade de, mesmo com aquela aparência sonolenta de sempre, derrotá-los sem jamais perder a tranquilidade. Também surgiu aí o Screwy Squirrel, um dos personagens mais sacanas que ja se viu em um desenho. Infelizmente, o público não gostou muito do esquilo e ele acabou sendo abandonado depois de estrelar apenas cinco curtas.

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Desenhos animados que tivessem algum elo com a realidade não combinavam com Tex. Por que ser um aluno comportado quando é muito mais divertido jogar bolinhas de papel na professora? Tex Avery revolucionou ao trazer para a animação um espírito de anarquia, cinismo, insanidade e, é claro – humor da melhor qualidade. Claro que as piadas e situações incomuns estavam presentes em praticamente todos os desenhos. Mas Tex dava um destaque maior a personagens totalmente livres de qualquer sanidade mental. As gags eram as grandes estrelas de seus curtas; o exagero era uma marca de sua animação.

Tex Avery também inseriu em alguns de seus desenhos uma certa sensualidade. A Chapeuzinho Vermelho foi transformada em uma sexy cantora de jazz através de RED HOT RIDING HOOD, e serviu de inspiração para a famosa Jessica Rabbit de UMA CILADA PARA ROGER RABBIT. Também teve o seu espaço a Cinderela, tão ousada quanto sua colega de contos de fada, no curta SWING SHIFT CINDERELLA.

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Mas as próprias reações enlouquecidas do Lobo (em que Tex esbanjava genialidade criando uma piada visual melhor que a outra) às vezes preocupavam os censores mais que os showzinhos da Chapéu – quando o Lobo ficava… ahn… reto, em pleno ar, esta era um situação que podia ser interpretada como uma “piada fálica”.

Em 1954, Tex deixou a MGM pouco antes de que ela deixasse de fazer curtas animados para cinema. Depois de um rápido retorno ao estúdio de Walter Lantz, Tex passou a fazer propagandas como esta aqui:



Já no final da vida, foi trabalhar no estúdio de William Hanna e Joseph Barbera, onde criou personagens menos conhecidos como o Cavernoso, um rato que vivia causando dores de cabeça ao Dino num spin-off dos Flintstones (espero não ser o único que se lembra disso). Em 1980, aos 72 anos, Tex morreu de um ataque cardíaco.

GÊNERO: DESENHO ANIMADO


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Brad Bird, o diretor de OS INCRÍVEIS, costuma ficar meio incomodado quando vê alguém classificando a animação como um gênero. “Faroeste é um gênero. Animação é uma forma de arte e com ela você pode fazer qualquer gênero. Sabe, você pode fazer um filme de detetive, um filme de caubói, um filme de terror, um filme adulto ou um conto de fadas infantil. Mas não é uma coisa só,” protesta ele, com toda a razão.

Mas, se é que podemos dizer que existe mesmo um “gênero desenho animado”, então ele foi desenvolvido especialmente por Tex Avery. O artista criou um inconfundível estilo de humor que insistia em explorar até os últimos limites situações que só poderiam acontecer em animação. Olhos que saltavam da cara, queixos que despencavam… como disse o índio que enfrentou Screwy em BIG HEEL-WATHA, “no desenho, tudo é permitido.”

Esse humor de extremos acabou sendo uma nova subdivisão da comédia. Teve vários discípulos – podemos perceber isso no Gênio de ALADDIN, em alguns desenhos dos anos 90 como ANIMANIACS ou no filme O Máskara, que homenageia os desenhos de Tex Avery explicitamente. Uma pena que o “gênero desenho animado” pareça já nem ter mais tantos representantes hoje em dia. Quando foi a última vez que você viu um personagem tendo uma reação de espanto parecida com a do Lobo aí em cima?

Herdeiros do tio Tex, por favor, manifestem-se antes que os desenhos fiquem completamente ajuizados.

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